Fundamentos para uma estética aplicada ao cinema
O ponto de partida deste projeto é a convicção de que a filosofia da arte deve ser radicada na crítica de arte, isto é, na análise de obras de arte específicas. Essa convicção, que exige o abandono do caráter abstrato e totalizante das estéticas tradicionais em prol do que se poderia chamar de estética aplicada , é a radicalização do pensamento dos primeiros românticos alemães, especialmente Friedrich Schlegel e Novalis, cujo conceito de crítica de arte foi o tema da tese de doutorado de Walter Benjamin. Se, em um fragmento publicado na revista Athenäum, Schlegel afirmou que toda interpretação filosófica de uma obra de arte deveria ser ao mesmo tempo uma filosofia da interpretação , nós diríamos que toda filosofia da interpretação deveria ser simultaneamente a interpretação filosófica de uma obra de arte. Ocorre que uma interpretação filosófica de uma obra de arte literária exige uma fundamentação distinta da interpretação filosófica de uma obra cinematográfica. Por isso, este projeto foi dividido em três partes: a primeira será dedicada a mapear as contribuições de alguns dos principais filósofos da tradição ao que se poderia chamar de uma filosofia do cinema; a segunda será voltada para o estudo de algumas obras seminais para a fundamentação da especificidade da crítica de cinema face à crítica de outras formas de arte; finalmente, a última parte deste projeto será dedicada à redação de um livro em que os 40 clássicos da tradição cinematográfica que integraram a mostra A história da filosofia em 40 filmes , que organizei no Teatro Nelson Rodrigues, juntamente com Alexandre Costa, entre maio de 2009 e fevereiro de 2010, serão interpretados filosoficamente à luz do conceito de crítica fundamentado pelas duas primeiras etapas da pesquisa.