Os métodos lulianos de resolução de inconsistências
A presente pesquisa visa ao preenchimento de uma importante lacuna na história da lógica medieval ao contribuir não só para o resgate, mas também para a análise de três métodos resolutivos de inconsistência elaborados por Raimundo Lúlio (1232-1316) em função de sua última campanha antiaverroísta em Paris. De início, trataremos da teoria luliana dos silogismos contraditórios, que consiste basicamente na avaliação de pares de teses inconsistentes a fim de selecionar uma delas com base em dois grupos de argumentos e contra-argumentos. Conforme a interpretação por nós proposta, tal procedimento envolve a seguinte estratégia adaptável: após identificar uma inconsistência, a lógica subjacente ao método dos silogismos contraditórios comporta-se em contextos inconsistentes de maneira paraconsistente, invalidando a aplicação de certas regras clássicas de inferência, embora também possa admitir em contextos consistentes o uso irrestrito de tais regras. Em seguida, realizaremos um estudo sistemático de determinada técnica luliana de argumentação fundamentalmente caracterizada como uma forma de reductio ad impossibile que se vale de suposições contraditórias. Mais eficiente do que outras abordagens argumentativas desenvolvidas por Lúlio no mesmo período, o método das suposições contraditórias distingue-se simplesmente por derivar a oposta de qualquer suposição que acarrete alguma impossibilidade. Finalmente, abordaremos um método baseado na falácia luliana da contradição que acomete aqueles argumentos que encerram algum tipo de ambiguidade e compartilham a forma Nenhum S é um P e algum S é um P; logo, algum S é um P e não é um P . Segundo Lúlio, tais argumentos por simularem a derivação de uma contradição a partir de um par inconsistente de premissas, aparentariam ser inválidos, não obstante revelarem ser válidos em função da identificação e supressão da ambiguidade responsável pelas contradições aparentes.