Os tópicos dialéticos em Alonso de Veracruz

No Tractatus de locis dialecticis, Alonso de Veracruz (1507-1582) promove uma reforma da teoria dos tópicos que se caracteriza pela combinação de alguns dos elementos mais expressivos de tradições rivais e aparentemente antagônicas como é o caso da dialética humanista e da lógica escolástica. Para determinar se tais elementos estariam articulados de maneira integrada e coerente na teoria proposta por Frei Alonso, cumpre, de início, avaliar a compatibilidade entre as definições escolástica e agricoliana de tópico, visto que ambas foram igualmente assimiladas pelo Tractatus de locis dialecticis. Na pesquisa aqui apresentada, defenderemos que Alonso de Veracruz concilia tais definições, concebendo os tópicos sob uma perspectiva prioritariamente epistêmica. Em seguida, cabe averiguar o que levou Frei Alonso a enaltecer as inovações da dialética humanista e, ao mesmo tempo, insistir no uso das proposições máximas, ignorando várias críticas a elas dirigidas por Rodolfo Agrícola. Acreditamos que tal dificuldade pode ser esclarecida mediante a hipótese de que Alonso de Veracruz teria optado pela manutenção das máximas em razão do importante papel por elas exercido na fundamentação das inferências entimemáticas. Finalmente, investigaremos as razões pelas quais a taxonomia alonsina dos tópicos não é inviabilizada pela presença de traços das teorias escolástica e humanista dos tópicos. Nesse contexto, assumiremos que a classificação dos tópicos sustentada por Frei Alonso não é corrompida por seu caráter híbrido, uma vez que ela compartilharia com as tradições escolástica e humanista o princípio segundo o qual uma lista de tópicos deve encerrar tanto as relações, quanto os aspectos que descrevem algo. Há pelo menos duas importantes razões que legitimam o estudo aqui proposto. Ao revelar de maneira minuciosa e exaustiva que a dialética humanista fora empregada como um instrumento de aperfeiçoamento da lógica escolástica, a investigação em questão contribuirá para a compreensão da ainda fragmentária história da lógica escolástica e motivará a reconsideração de uma tese muito difundida entre os historiadores da lógica renascentista para quem a dialética humanista teria sido exclusivamente concebida como uma alternativa à lógica escolástica.