A economia política da vida nua em Giorgio Agamben ou o capitalismo como zoopolítica
Em que medida a articulação entre econômico e político enfrenta desde o início uma certa resistência? Lendo Marx, vemos que ele aponta para Aristóteles como aquele que pensou pela primeira vez a articulação entre esses dois campos. A referência a Aristóteles é igualmente presente, mais recentemente, em Giorgio Agamben, que parte do texto de Aristóteles para se debruçar sobre a questão da biopolítica. A pergunta que conduz este projeto é: como duas dimensões originalmente tão distintas como a economia e a política podem se relacionar? Em última instância, como a economia se torna política? Ir a Aristóteles talvez nos permita entender essa questão com maior clareza e poder retornar a Agabem de outro modo. Para tanto será necessário retomar as relações entre economia e política em Aristóteles a partir da distinção entre zoé e bíos, que Agamben coloca como o fundamento a partir do qual se constitui isso que ele chama, seguindo nisso Foucault, de biopolítica. Há uma relação intrínseca entre o simples viver, isso que Agamben chama de vida nua, e a produção ilimitada de riqueza. O que nos permitiria avançar que o capitalismo corresponderia a esse modo de produção, a esse modo de economia política em que a vida nua, a zoé, e não o bíos, teria uma posição central. É nesse sentido que afirmaríamos que o capitalismo, enquanto instaurando um modo preciso de economia política, seria muito mais uma zoopolítica que um biopolítica.