O trágico como princípio de contradição: a semântica do amor, da guerra e da harmonia na aurora do pensamento grego
A proposta fundamental deste projeto de pesquisa consiste na realização de uma análise detida acerca de alguns dos primeiros textos da tradição do pensamento grego antigo que permitam (1) revelar como surgem neste pensamento seus aspectos tão caracteristicamente trágicos; (2) verificar a possibilidade de delimitar o trágico, a partir desses textos, como princípio e elemento de contradição, uma vez que parece exigir sempre a observância de uma tensão entre opostos que, não sendo mutuamente excludentes, são também necessariamente compostos; (3) demonstrar que a ideia trágica de contradição traduz-se na forma de uma literatura, tanto poética como filosófica, cujo teor trágico impõe às palavras a marca do impasse, do dilema, do paradoxo e da ambiguidade, conformando assim toda uma espécie de gênero literário que tem nessas mesmas marcas suas principais figuras de linguagem; (4) delinear, consequentemente, em que medida corresponde ao pensamento trágico um “idioma” que lhe é intrínseco e igualmente trágico; (5) desenvolver como esse referido idioma elabora toda uma semântica do trágico, uma semântica da contradição, da qual os termos guerra (pólemos), amor (éros) e harmonia (harmonía) são os signos e significados máximos; e (6) delimitar historicamente o quanto a consolidação de um pensamento e de uma literatura trágica ofereceu o antecedente necessário ao aparecimento da tragédia em sua forma dramática e teatral; confirmada essa relação histórica, encontrar-se-ia igualmente confirmada a principal hipótese que orienta esta pesquisa: que a tragédia é a tradução litúrgica, estética e artística de um pensamento e de uma cultura trágica estabelecidos ao longo dos primeiros séculos da literatura grega; a tragédia seria, assim, a tradução dramática e visível de toda uma concepção de vida e visão de mundo as mais constitutivas e distintivas dos primeiros tempos da poesia e filosofia gregas.