Rumos do ceticismo moderno
Richard Popkin mostrou em sua História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza (2000, capítulo 2) que a retomada do ceticismo antigo no período moderno foi uma das forças propulsoras da formação do pensamento moderno. Essa retomada leva, por sua vez, à formulação de um ceticismo moderno com características bem distintas do antigo. A interpretação da transmissão e recepção do ceticismo é central para o entendimento do conceito de ceticismo moderno e da própria modernidade em suas várias dimensões, histórica, epistemológica, político-jurídica e teológica.
Esse projeto consiste no exame desse processo e na análise dessas distinções. Com base nesse exame histórico discutiremos se o ceticismo ainda pode ser uma filosofia viável e relevante para o pensamento contemporâneo.
Dentre os vários aspectos do ceticismo moderno, a dúvida tem sido considerada uma das características mais centrais, pode-se dizer mesmo definidora. O ponto de partida é um contraste inicial entre dúvida moderna e existência ou não de “dúvida” no pensamento antigo. Nossa hipótese é a de que apesar de ser encontrada em outros pensadores, a “dúvida” é sempre referida à filosofia de Descartes.
Chamo de “paradoxo de Descartes” o fato de que embora um adversário declarado dos céticos, Descartes acabou por ser considerado o formulador de um ceticismo entendido por muitos como irrefutável, sobretudo devido à sua formulação da dúvida. Discutiremos, portanto, as diferentes e mesmo antagônicas interpretações da dúvida cartesiana, levando em conta seus desdobramentos posteriores.
A recepção da dúvida cartesiana e seus desdobramentos em argumentos posteriores como “outras mentes” e “a existência do mundo externo” serão examinados nesse sentido.